Um diálogo sobre a deficiência visual
Coube-me a tarefa de escrever um texto sobre a inclusão da pessoa com deficiência visual no
ensino regular e eu me sinto muito à vontade para fazê-lo.
Começo esse diálogo, falando com muita sinceridade do meu ingresso no ensino
especializado. Fiquei bastante insegura e temerosa a respeito do que me aguardava e repetia
para mim mesma: “- Não sei lidar, não fui preparada, não vou ficar!”
O tempo foi passando e a convivência me permitiu perceber que pessoas com deficiência são
sujeitos de direito e que têm desejos e necessidades assim como nós.
Procurei então transformar os meus temores em combustível o qual me impulsionou a buscar o
conhecimento que não tinha para poder redesenhar a minha prática pedagógica.
Resumindo, estou no ensino especializado há 18 anos. Comecei atuando na área de Déficit
Intelectual e hoje atuo na Deficiência Visual. Sou uma entusiasta da Educação Inclusiva.
Acredito nela!
Noto os avanços que essa área já alcançou e o quanto ainda precisa e pode avançar. Para
isso, é preciso a contribuição de todos.
Faço esse preâmbulo para entrar no nosso conteúdo propriamente dito.
CONCEITUAÇÃO:
Por deficiência visual entende-se a redução ou perda total da capacidade de ver com o melhor
olho e após a melhor correção ótica, conforme definições médicas e educacionais.
Divide-se em cegueira e baixa visão:
·
20° no melhor olho; apresentam desde a ausência tot al da visão, até a perda da projeção da
luz.
Pessoas cegas – acuidade visual igual ou menor que 20/20, ou cujo campo visual é inferior a·
redução importante do campo visual, alterações corticais e ou sensibilidade aos contrastes
que interferem ou que limitam o desempenho visual.
Se a pessoa tem a visão comprometida, ela passa a fazer uso acentuado dos demais sentidos,
que são chamados sentidos remanescentes.
De posse dessas informações, podemos agora pensar em como lidar em sala de aula com a
pessoa que já não vê ou que vê bem pouco:
Pessoas com baixa visão – baixa acuidade significativa (6/20 e 6/60 no melhor olho),1. É importante ter clareza de que a pessoa com deficiência visual precisa de referências,
portanto dê normas claras, usando os termos: em cima, embaixo, esquerda, direita, na
frente, atrás;
2. Promova a independência do seu aluno encorajando-o a se locomover pelo espaço e
buscar o material que deseja. Para isso a sala precisa estar organizada de forma que ele
saiba onde estão todos os objetos. Lembre-se: sempre que for mudar algo de lugar, aviseo;
3. Não permita que seu aluno fique em sala sem produzir. Se ele tem baixa visão e não
consegue ler o que está escrito no quadro, permita que ele se aproxime quantas vezes
achar necessário ou mesmo ofereça-lhe a atividade digitada com a fonte adequada à sua
necessidade. Se ele é cego, precisa que tudo que está escrito no quadro seja lido em voz
alta para que possa anotar usando reglete (instrumento utilizado para a escrita Braille).
Isso pode ser feito por você e pelos colegas.
4. A presença de uma pessoa com deficiência no ensino comum possibilita a prática dos
valores (solidariedade, respeito, companheirismo...) tão esquecidos hoje. Se a turma for
motivada a praticar esses bons hábitos, você terá excelentes colaboradores;
5. Existem algumas situações em que o aluno com deficiência visual precisará de mais tempo
para realizar a atividade, por exemplo, em atividades muito extensas.
6. Quando for planejar a aula lembre-se de que o aluno com deficiência visual precisará de
materiais concretos para facilitar a sua aquisição do conhecimento. Importante: esse
material beneficia a turma toda, torna a aula mais interessante e a aprendizagem mais
significativa.
7. Para os alunos que ainda não lêem e não escrevem uma forma de garantir a sua
participação é explorando a sua oralidade, seja individualmente ou no coletivo. Trabalhos
em dupla também são recomendados: a dupla discute as questões solicitadas pelo
professor e o vidente assume a função de escriba, anotando a opinião emitida pelo colega
com deficiência visual.
8. O aluno cego também pode escrever com escrita cursiva. Informe-se se ele já tem esse
domínio e inclua na sua rotina a assinatura do seu nome, pois assim ele pratica e não
esquece os traçados.
9. Sobre avaliação: esta deve ser discutida com o profissional do atendimento especializado
a fim de observar a necessidade de fazer alguma adaptação, mas deve ser realizada na
própria escola.
10. Por fim, em momentos de dúvidas e qualquer necessidade, conte com os profissionais das
Salas de Recursos Multifuncionais e centro de atendimento especializado. Eles lhe
receberão com muito carinho.
Alessandra Santana Midlej Café - Pedagoga
Especializações: Psicopedagogia – Neuropsicologia – Educação Especial Inclusiva – Professora
do Centro de Referência à Inclusão Escolar- CRIE, atuando na área de deficiência visual.
e-mail: asmidlejcafe@hotmail.com